domingo, 17 de junho de 2012

O Carmelo em Fortaleza (artigo escrito por ocasião dos 70 de fundação (1929-1999)


O Carmelo em Fortaleza
1929 – 15 de dezembro – 1999
 
O que é um Carmelo?
Para quê, um Carmelo em Fortaleza?
Quem são as Carmelitas?
 
“À vocação das Carmelitas Descalças é um dom do Espírito, que as convida a uma “ misteriosa união com Deus ”, vivendo em amizade com Cristo e em intimidade com a Bem-aventurada Virgem Maria; a oração e a imolação fundem-se vivamente com um grande amor à Igreja. Por isso, em virtude de sua vocação, estão chamadas à contemplação, tanto na oração como na vida. Este compromisso de viver em contínua oração nutre-se com a fé, a esperança e, sobretudo, com o amor de Deus. Desta maneira, com o coração poderão conseguir a plenitude da vida em Cristo e dispor-se a receber a abundância dos dons do Espírito.”( Constituições no. 10 )  
Como nossas constituições indicam em nossa vida, a oração e a imolação fundem-se vivamente com um grande à Igreja.
É o amor à Igreja que dinamiza nossa oração. Nosso campo de ação é a Igreja toda, a edificação do Corpo de Cristo e a salvação do mundo. Nossa vocação é essencialmente eclesial e apostólica. O apostolado ao qual Nossa Santa Madre Teresa de Jesus quis que nos dedicássemos, é “puramente contemplativa e consiste na oração e na imolação com a Igreja e pela Igreja, excluindo qualquer forma de apostolado ativo.”(P.C. 7)
Deste modo, abrimo-nos à ação do Espírito Santo que guia e vivifica a Igreja, e tendemos a alcançar aquele puro e solitário amor, que é mais precioso diante de Deus e de mais proveito para a Igreja do que outras obras juntas. (São João da Cruz – Cântico B 29,2)
Isto buscamos alcançar, conscientes de nossa fraqueza e imperfeição, mas desejosas de deixarmo-nos conduzir pelo Espírito Santo para que unidas com nossos irmãos que se imolam na doação concreta apostólica, levarmos Cristo a todos os corações.
Nossa oblação é por toda a Igreja , mas situadas que estamos numa Igreja particular queremos nos inserir plenamente nela, cada vez mais, fazendo parte da família diocesana. O nosso viver é oferecer nela o peculiar testemunho de vida contemplativa do Carmelo Teresiano.  
Nosso Santo Padre João Paulo II, quando os bispos se apresentam em Roma para a visita “ad límina”, uma de suas perguntas habituais é: se nas suas dioceses há casas de monjas contemplativas, se não existe nenhuma pede que fundem alguma.
Parece-nos que o Santo Padre Pio XI fez esse mesmo questionamento ao Arcebispo de Fortaleza Dom Manuel da Silva Gomes na sua visita ad límina em abril de 1929.
Sua Excelência visitando depois uma exposição de arte sacra se fixou em um quadro de 2mx 1,20m de “Santa Teresinha na Glória” pintado por Ernanti . Entusiasmado com a jovem Teresa canonizada somente há quatro anos, a 17 de maio de 1925, e proclamada Padroeira das Missões a 14 de dezembro de 1927, logo adquire este painel linda obra de arte, dizendo: “Teresinha eu te levo agora. Tu vais na frente e levarás o Carmelo para o Ceará.”
De fato, Santa Teresinha preparou os caminhos. Quando este quadro chegou à Fortaleza ficou exposto à veneração dos fiéis na Igreja do Patrocínio de São José e logo surgiu uma associação de senhoras dedicadas a preparar algo para a vinda do Carmelo para Fortaleza.

É de notar que só havia Carmelos no sul do Brasil e unicamente o de Recife fundado 4 anos antes do nosso em todo o Nordeste do Brasil. Era “impensável” para os costumes da Ordem naquela época um Carmelo em terras quentes do nordeste brasileiro.
Dom Manuel em longa viagem de navio atravessou o oceano Atlântico, aportou no Rio de Janeiro onde logo se dirigiu ao convento de SantaTeresa para pedir irmãs para esta fundação.
Madre Evangelista, então Priora, chamou Madre Antônia do Menino Jesus, cearense, para receber a Bispo de sua terra. O pedido foi feito , o assombro aflorou: “Carmelitas, no Ceará?” Apresentadas as dificuldades – em maio a própria Madre Evangelista sairia em Missão com um grupo de religiosas para fundar o Carmelo da Santíssima Trindade – poucas religiosas, distância, clima, etc.

Mas Santa Teresinha estava apressada em “ser cearense ” logo tocou o coração de Madre Cecília do Espírito Santo para se oferecer a ir com Madre Antônia, acompanhando-a nessa Missão. Madre Antônia em sua humildade achando-se incompetente para tal empreendimento, rezava aflita diante do quadro de “Jesus Formoso”- Ecce Homo. É doce o olhar dessa imagem mas naquele momento, Madre Antônia sentiu-o tão ríspido e severo que balbuciou: “Senhor ,parai, não me repreendais assim. Aceito a fundação no Ceará. Faça-se a vossa Santíssima Vontade e não me falte a graça para executá-la fielmente. ” E logo a luz clareou suas trevas e uma nova energia a fez empreender todo o plano de Deus. Madre Joaquina uniu-se ao grupo e a 09 de dezembro de 1929 as três Madres deixavam para sempre o vestuto e tão belo e querido convento de Santa Teresa, primeiro Carmelo brasileiro para singrarem no vapor “Itanagé” durante 7 dias até aportarem à praia do Farol em Fortaleza.

Foi o amor à Igreja e só este apaixonado amor que fez com que estas três heróicas Madres deixassem seu mosteiro bi-secular, rico de tradições e arte e partissem para o longínquo Nordeste, para num pobre conventinho desconhecidas de todos, enfrentando clima, alimentação, costumes tão diferentes iniciarem a vida carmelitana no Ceará. Mas um elo de verdadeira caridade unia estas três pedras fundamentais que pela sua humildade profunda puderam se tornar um alicerce capaz de sustentar a obra que Deus queria fazer nelas e por elas.

Sentimos uma profunda gratidão por estas três verdadeiras carmelitas que souberam implantar e transmitir-nos o autêntico Carisma Carmelitano. Fazendo dele uma releitura ã luz também da Doutrina de Santa Teresinha, deram ao nosso Carmelo uma característica muito profunda do verdadeiro amor ao Deus, à sua Igreja e aos irmãos. Impulsionaram-nos à confiança e ao abandono nas mãos do Pai misericordioso, que nunca nos deixa faltar nada, provado na doação simples nas pequeninas coisas assumidas com muito amor no dia-a-dia.

A própria Providência foi enviando vocações, o primeiro mosteirinho da rua J. da Penha onde só havia treze celas não podia acolher todas as vocações e em janeiro de 1949 nos trasladamos ao convento da rua Visconde do Rio Branco em Joaquim Távora.

O Pai Eterno em sua bondade continuava velando por tudo, enviando também bem-feitores generosos que nos acudiam trazendo justamente o que precisávamos pois a Comunidade passava extrema pobreza. Quantas vezes a Madre Mestra visitava à noite as celas das noviças levando uns pedacinhos de pão para dar àquela que não conseguia adormecer com fome!

As vocações iam-se multiplicando, tendo, por vezes a Madre Priora de enviar candidatas para Carmelos do Rio de Janeiro porque nosso conventinho provisório, só com 13 celas não as podia abrigar.
Um golpe doloroso atingiu a Comunidade quando o “Divino Ladrão” nos roubou por um enfarte 
a Nossa Madre Fundadora, Madre Antônia do Menino Jesus.
Madre Cecília assumindo o priorado pensou logo em construir um mosteiro mais espaçoso. Iniciaram-se várias campanhas para adquirir meios para a construção e assim em 1949 já pudemos nos transladar para a casa da rua Visconde do Rio Branco.

O Senhor foi colhendo espaçadamente no seu jardim suas rosas. Irmã Maria de São José e Irmã Benigna, mais tarde Nossa Madre Cecília e dois meses após ela, a Madre Joaquina. Continuando sua ceifa levou-nos Irmã Jesuína e Irmã Francisca. Mas as vocações continuavam a chegar sempre numerosas.

Desejosas de um local mais silencioso e desértico, recebemos de presente uma quadra na Boa Vista, antes Dias Macêdo. O novo mosteirinho foi edificado, agora todo planejado para o nosso clima quente e também sob a inspiração de nossa Regra: o Templo no centro ladeado do cenóbio e dos ermos com as celas das Irmãs. Daqui já nos deixaram pelo Carmelo do céu, a Irmã Maria do Carmo e Irmã Ana.
E agora felizes celebramos os 70 anos de bênçãos, de dons e carinhos, de graças luminosas, de graças dolorosas, mas em todas percebemos as mãos delicadas de nossa Santa Teresinha derramando suas rosas.
 
De nossas Madres Fundadoras recebemos o “vivo sentido da Igreja, que se manifesta na nossa participação plena da vida eclesial em todas as suas dimensões e na pronta obediência aos Pastores, especialmente ao romano Pontífice. Neste horizonte de amor pela Santa Igreja”, (Vida Consagrada no. 46) nossa Comunidade respondeu ao pedido de abrir novos Carmelos em outras terras. Em 1990 a Diocese de Teresina abria seus braços à fundação do Carmelo de Santa Teresa e São João da Cruz e em 1998 chegou a vez da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim acolher a fundação do Carmelo São José.
Assim nosso Carmelo guiado pelo Coração Missionário de Santa Teresinha deixava partir suas filhas, certo de que “a vida contemplativa produz uma eficácia apostólica e missionária extraordinária fecundante numa Diocese. A sua oferta para além do aspecto do sacrifício e expiação, adquire também o de agradecimento ao Pai, participando na ação de graças do Filho dileto”.(V.C. – 59).
 
Ao repassar na memória esses 70 anos de graças e bênçãos, um hino de gratidão sobe de nossos corações a Deus Pai porque quis presentear a Igreja de Fortaleza com um Carmelo e à nossa Igreja local que nos acolheu de braços abertos.

Não podemos deixar de nomear nossos Bispos que, como verdadeiros Pais e Pastores sempre se desvelaram pelo Carmelo.

Dom Manuel da Silva Gomes que nos chamou à sua Arquidiocese e dirigiu nossos primeiros passos.

Quer seja Dom Lustosa, Dom José ou Dom Aloísio, Dom Geraldo, Dom Cláudio ou Dom José Antônio, assim como Dom Raimundo ou Dom Milleville, cada qual se dedicou mais às suas filhas Carmelitas, com sua presença nos dias de graças e bênçãos, assim como nos momentos difíceis. Se hoje nos sentimos uma Comunidade renovada e aberta, acompanhando a Igreja de hoje, é que a atuação de nossos Bispos e Clero muito nos ajudaram.

São tantos os sacerdotes que incansavelmente se dedicaram à nossa assistência e formação, assim como Benfeitores sem número, Médicos, Dentistas, Construtores, Operários... enfim, tantos Amigos que é impossível nomeá-los. Mas no nosso coração e oração os temos sempre presentes e lhe desejamos muita paz, santidade, saúde e bênção de Deus para cada um e suas famílias.

Nossa gratidão também para Nossa Ordem do Carmelo. De todos os Nossos Padres Gerais, tanto Frei Guilherme como Frei Silvério ou Frei Anastácio, Frei Miguel Ângelo ou Frei Finiano, Frei Felipe ou Frei Camilo, recebemos sempre uma palavra e orientação, seu testemunho de vida nos impulsionou à fidelidade ao Carisma Teresiano formando um Carmelo vivo na Igreja.

Estamos unidas ao 50 Carmelos que formam como que uma rede a envolver quase todo o Brasil na Oração Teresiana, o ardente desejo de sermos todas, como Santa Madre Teresa, “Filhas da Igreja”. À todas as nossas queridas Madres e Irmãs nossa amizade e gratidão.

Nossa Comunidade atualmente conta com 10 Irmãs de Profissão Solene, 1 Irmã do Serviço Externo, 3 Professas Temporárias, 1 Noviça e 2 Postulantes.

Para a fundação do Carmelo de Teresinha enviamos 5 Irmãs assim como outras 5 para o Carmelo de Cachoeiro.

Nove Irmãs já nos precederam na verdadeira Vida, onde intercedem por nós enquanto contemplam a Face de Deus e cantam seus louvores. Seu testemunho de vida nos ajuda na caminhada como verdadeiras filhas da Mãe e Rainha do Carmelo. is um pequeno esboço de suas vidas ocultas consumadas no Amor