O
Carmelo em Fortaleza
1929
– 15 de dezembro – 1999
O
que é um Carmelo?
Para
quê, um Carmelo em Fortaleza?
Quem
são as Carmelitas?
“À vocação das
Carmelitas Descalças é um dom do Espírito, que as convida a uma “ misteriosa
união com Deus ”, vivendo em amizade com Cristo e em intimidade com a
Bem-aventurada Virgem Maria; a oração e a imolação fundem-se vivamente com um
grande amor à Igreja. Por isso, em virtude de sua vocação, estão chamadas à
contemplação, tanto na oração como na vida. Este compromisso de viver em
contínua oração nutre-se com a fé, a esperança e, sobretudo, com o amor de
Deus. Desta maneira, com o coração poderão conseguir a plenitude da vida em
Cristo e dispor-se a receber a abundância dos dons do Espírito.”( Constituições
no. 10 )
Como nossas
constituições indicam em nossa vida, a oração e a imolação fundem-se vivamente
com um grande à Igreja.
É o amor à Igreja que
dinamiza nossa oração. Nosso campo de ação é a Igreja toda, a edificação do
Corpo de Cristo e a salvação do mundo. Nossa vocação é essencialmente eclesial
e apostólica. O apostolado ao qual Nossa Santa Madre Teresa de Jesus quis que
nos dedicássemos, é “puramente contemplativa e consiste na oração e na
imolação com a Igreja e pela Igreja, excluindo qualquer forma de apostolado
ativo.”(P.C. 7)
Deste modo,
abrimo-nos à ação do Espírito Santo que guia e vivifica a Igreja, e tendemos a
alcançar aquele puro e solitário amor, que é mais precioso diante de Deus e de
mais proveito para a Igreja do que outras obras juntas. (São João da Cruz –
Cântico B 29,2)
Isto buscamos
alcançar, conscientes de nossa fraqueza e imperfeição, mas desejosas de
deixarmo-nos conduzir pelo Espírito Santo para que unidas com nossos irmãos que
se imolam na doação concreta apostólica, levarmos Cristo a todos os corações.
Nossa oblação é por
toda a Igreja , mas situadas que estamos numa Igreja particular queremos nos
inserir plenamente nela, cada vez mais, fazendo parte da família diocesana. O
nosso viver é oferecer nela o peculiar testemunho de vida contemplativa do
Carmelo Teresiano.
Nosso Santo Padre
João Paulo II, quando os bispos se apresentam em Roma para a visita “ad
límina”, uma de suas perguntas habituais é: se nas suas dioceses há casas
de monjas contemplativas, se não existe nenhuma pede que fundem alguma.
Parece-nos que o
Santo Padre Pio XI fez esse mesmo questionamento ao Arcebispo de Fortaleza Dom
Manuel da Silva Gomes na sua visita ad límina em abril de 1929.
Sua Excelência
visitando depois uma exposição de arte sacra se fixou em um quadro de 2mx 1,20m
de “Santa Teresinha na Glória” pintado por Ernanti . Entusiasmado
com a jovem Teresa canonizada somente há quatro anos, a 17 de maio de 1925, e
proclamada Padroeira das Missões a 14 de dezembro de 1927, logo adquire este
painel linda obra de arte, dizendo: “Teresinha eu te levo agora. Tu vais na
frente e levarás o Carmelo para o Ceará.”
De fato, Santa
Teresinha preparou os caminhos. Quando este quadro chegou à Fortaleza ficou
exposto à veneração dos fiéis na Igreja do Patrocínio de São José e logo surgiu
uma associação de senhoras dedicadas a preparar algo para a vinda do Carmelo para Fortaleza.
É
de notar que só havia Carmelos no sul do Brasil e unicamente o de Recife
fundado 4 anos antes do nosso em todo o Nordeste do Brasil. Era “impensável”
para os costumes da Ordem naquela época um Carmelo em terras quentes do
nordeste brasileiro.
Dom
Manuel em longa viagem de navio atravessou o oceano Atlântico, aportou no Rio
de Janeiro onde logo se dirigiu ao convento de SantaTeresa para pedir irmãs
para esta fundação.
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Madre Evangelista,
então Priora, chamou Madre Antônia do Menino Jesus, cearense, para receber a
Bispo de sua terra. O pedido foi feito , o assombro aflorou: “Carmelitas, no
Ceará?” Apresentadas as dificuldades – em maio a própria Madre Evangelista
sairia em Missão com um grupo de religiosas para fundar o Carmelo da Santíssima
Trindade – poucas religiosas, distância, clima, etc.
Mas
Santa Teresinha estava apressada em “ser cearense ” logo tocou o
coração de Madre Cecília do Espírito Santo para se oferecer a ir com Madre
Antônia, acompanhando-a nessa Missão. Madre Antônia em sua humildade
achando-se incompetente para tal empreendimento, rezava aflita diante do
quadro de “Jesus Formoso”- Ecce Homo. É doce o olhar dessa imagem mas
naquele momento, Madre Antônia sentiu-o tão ríspido e severo que balbuciou: “Senhor
,parai, não me repreendais assim. Aceito a fundação no Ceará. Faça-se a vossa
Santíssima Vontade e não me falte a graça para executá-la fielmente. ” E
logo a luz clareou suas trevas e uma nova energia a fez empreender todo o
plano de Deus. Madre Joaquina uniu-se ao grupo e a 09 de dezembro de 1929 as
três Madres deixavam para sempre o vestuto e tão belo e querido convento de
Santa Teresa, primeiro Carmelo brasileiro para singrarem no vapor “Itanagé”
durante 7 dias até aportarem à praia do Farol em Fortaleza.
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Foi o amor à Igreja e
só este apaixonado amor que fez com que estas três heróicas Madres deixassem
seu mosteiro bi-secular, rico de tradições e arte e partissem para o longínquo
Nordeste, para num pobre conventinho desconhecidas de todos, enfrentando clima,
alimentação, costumes tão diferentes iniciarem a vida carmelitana no Ceará. Mas
um elo de verdadeira caridade unia estas três pedras fundamentais que pela sua
humildade profunda puderam se tornar um alicerce capaz de sustentar a obra que
Deus queria fazer nelas e por elas.
Sentimos uma profunda
gratidão por estas três verdadeiras carmelitas que souberam implantar e
transmitir-nos o autêntico Carisma Carmelitano. Fazendo dele uma releitura ã
luz também da Doutrina de Santa Teresinha, deram ao nosso Carmelo uma
característica muito profunda do verdadeiro amor ao Deus, à sua Igreja e aos
irmãos. Impulsionaram-nos à confiança e ao abandono nas mãos do Pai
misericordioso, que nunca nos deixa faltar nada, provado na doação simples nas
pequeninas coisas assumidas com muito amor no dia-a-dia.
A própria Providência
foi enviando vocações, o primeiro mosteirinho da rua J. da Penha onde só havia
treze celas não podia acolher todas as vocações e em janeiro de 1949 nos
trasladamos ao convento da rua Visconde do Rio Branco em Joaquim Távora.
O Pai Eterno em sua
bondade continuava velando por tudo, enviando também bem-feitores generosos que
nos acudiam trazendo justamente o que precisávamos pois a Comunidade passava
extrema pobreza. Quantas vezes a Madre Mestra visitava à noite as celas das
noviças levando uns pedacinhos de pão para dar àquela que não conseguia
adormecer com fome!
As vocações iam-se
multiplicando, tendo, por vezes a Madre Priora de enviar candidatas para
Carmelos do Rio de Janeiro porque nosso conventinho provisório, só com 13 celas
não as podia abrigar.
Um golpe doloroso
atingiu a Comunidade quando o “Divino Ladrão” nos roubou por um enfarte
a Nossa Madre Fundadora, Madre Antônia do Menino Jesus.
Madre Cecília
assumindo o priorado pensou logo em construir um mosteiro mais espaçoso.
Iniciaram-se várias campanhas para adquirir meios para a construção e assim em
1949 já pudemos nos transladar para a casa da rua Visconde do Rio Branco.
O Senhor foi colhendo
espaçadamente no seu jardim suas rosas. Irmã Maria de São José e Irmã Benigna,
mais tarde Nossa Madre Cecília e dois meses após ela, a Madre Joaquina.
Continuando sua ceifa levou-nos Irmã Jesuína e Irmã Francisca. Mas as vocações
continuavam a chegar sempre numerosas.
Desejosas de um local
mais silencioso e desértico, recebemos de presente uma quadra na Boa Vista,
antes Dias Macêdo. O novo mosteirinho foi edificado, agora todo planejado para
o nosso clima quente e também sob a inspiração de nossa Regra: o Templo no
centro ladeado do cenóbio e dos ermos com as celas das Irmãs. Daqui já nos
deixaram pelo Carmelo do céu, a Irmã Maria do Carmo e Irmã Ana.
E agora felizes
celebramos os 70 anos de bênçãos, de dons e carinhos, de graças luminosas, de
graças dolorosas, mas em todas percebemos as mãos delicadas de nossa Santa
Teresinha derramando suas rosas.
De nossas Madres
Fundadoras recebemos o “vivo sentido da Igreja, que se manifesta na nossa
participação plena da vida eclesial em todas as suas dimensões e na pronta
obediência aos Pastores, especialmente ao romano Pontífice. Neste horizonte de
amor pela Santa Igreja”, (Vida Consagrada no. 46) nossa Comunidade respondeu
ao pedido de abrir novos Carmelos em outras terras. Em 1990 a Diocese de
Teresina abria seus braços à fundação do Carmelo de Santa Teresa e São João da
Cruz e em 1998 chegou a vez da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim acolher a
fundação do Carmelo São José.
Assim nosso Carmelo
guiado pelo Coração Missionário de Santa Teresinha deixava partir suas filhas,
certo de que “a vida contemplativa produz uma eficácia apostólica e
missionária extraordinária fecundante numa Diocese. A sua oferta para além do
aspecto do sacrifício e expiação, adquire também o de agradecimento ao Pai,
participando na ação de graças do Filho dileto”.(V.C. – 59).
Ao repassar na
memória esses 70 anos de graças e bênçãos, um hino de gratidão sobe de nossos
corações a Deus Pai porque quis presentear a Igreja de Fortaleza com um Carmelo
e à nossa Igreja local que nos acolheu de braços abertos.
Não podemos deixar de
nomear nossos Bispos que, como verdadeiros Pais e Pastores sempre se desvelaram
pelo Carmelo.
Dom Manuel da Silva
Gomes que nos chamou à sua Arquidiocese e dirigiu nossos primeiros passos.
Quer seja Dom
Lustosa, Dom José ou Dom Aloísio, Dom Geraldo, Dom Cláudio ou Dom José Antônio,
assim como Dom Raimundo ou Dom Milleville, cada qual se dedicou mais às suas
filhas Carmelitas, com sua presença nos dias de graças e bênçãos, assim como
nos momentos difíceis. Se hoje nos sentimos uma Comunidade renovada e aberta,
acompanhando a Igreja de hoje, é que a atuação de nossos Bispos e Clero muito
nos ajudaram.
São tantos os
sacerdotes que incansavelmente se dedicaram à nossa assistência e formação,
assim como Benfeitores sem número, Médicos, Dentistas, Construtores,
Operários... enfim, tantos Amigos que é impossível nomeá-los. Mas no nosso
coração e oração os temos sempre presentes e lhe desejamos muita paz,
santidade, saúde e bênção de Deus para cada um e suas famílias.
Nossa gratidão também
para Nossa Ordem do Carmelo. De todos os Nossos Padres Gerais, tanto Frei
Guilherme como Frei Silvério ou Frei Anastácio, Frei Miguel Ângelo ou Frei
Finiano, Frei Felipe ou Frei Camilo, recebemos sempre uma palavra e orientação,
seu testemunho de vida nos impulsionou à fidelidade ao Carisma Teresiano
formando um Carmelo vivo na Igreja.
Estamos unidas ao 50
Carmelos que formam como que uma rede a envolver quase todo o Brasil na Oração
Teresiana, o ardente desejo de sermos todas, como Santa Madre Teresa, “Filhas
da Igreja”. À todas as nossas queridas Madres e Irmãs nossa amizade e
gratidão.
Nossa Comunidade
atualmente conta com 10 Irmãs de Profissão Solene, 1 Irmã do Serviço Externo, 3
Professas Temporárias, 1 Noviça e 2 Postulantes.
Para a fundação do
Carmelo de Teresinha enviamos 5 Irmãs assim como outras 5 para o Carmelo de Cachoeiro.